Acabo de ler a entrevista que Serifo Nhamadjo concedeu à Jeune Afrique, na qual faz um pouco o balanço político da sua Presidência, que assumiu interinamente pelo período de transição.
Apresento aqui a tradução do último parágrafo, pois pareceu-me notável a semelhança de pontos de vista com aquilo que defendi na entrevista que foi hoje para o ar pelas 20h na Rádio Bombolom:
JA - As Forças Armadas, com origem na guerra de libertação, exercem uma influência decisiva na vida política. Julga que é possível fazer uma reforma sem provocar uma reação violenta da sua parte?
SN - Não são apenas as Forças Armadas que devem ser reformadas, é o conjunto do aparelho de Estado. A nossa justiça é contestada pelas populações, o nosso sistema educativo é precário, os nossos cidadãos não têm acesso a serviços de saúde básicos, as nossas infra-estruturas são quase inexistentes, mesmo na capital... Na Guiné-Bissau o Estado é quase o único empregador, realidade que se traduziu por numerosos desvios. Onde era preciso um funcionário, foram recrutados quatro. Quanto às nossas Forças Armadas, não dispõem dos meios que lhes permitiriam exercer dignamente a sua função. É realmente necessária uma reforma, mas esta deve resultar de um diálogo entre os principais atores nacionais. Muitos militares estão desejosos de se reformar, mas não o farão sem a garantia de conseguir suprir as suas necessidades. Sem uma política social que permita a um funcionário ou a um militar viver condignamente da sua reforma, o problema persistirá. É todo o nosso aparelho de Estado que deve ser reestruturado.
Carmelita Pires
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