quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ressurgimento nacional

Nesta campanha eleitoral, as deslocações que tenho feito pelo território nacional, permitiram confirmar a impressão que já tinha, de que estamos hoje numa situação de extrema indigência. A toda a hora e a todos os níveis, somos confrontados pela mais radical penúria, com um efeito extremamente negativo no nosso orgulho. A nós, na pátria de Cabral, que sonhámos a independência cultural e económica, não nos é dado conformarmos-nos com essa atitude mendicante.

É urgente debelar essa pedinchice generalizada, evitar que se enraíze, tomando conta da terra e das gentes, corrompendo a dignidade nacional. É triste reconhecê-lo, mas é a realidade com que nos deparamos presentemente: relatos deprimentes têm sido publicados pelos donos de alguns blogs vivendo na Diáspora, na sequência da sua passagem pelo país. Esse olhar para dentro de quem vive fora, é um reflexo bem esclarecedor, que não nos poupa.

Nem sequer somos pobres: estamos indigentes, o que é uma coisa completamente diferente. Ser pobre é uma condição estrutural, sem recursos ou rendimentos, com limitadas perspetivas de alteração dessa condição. Indigente pode ser apenas uma condição temporária, induzida por exemplo por uma catástrofe ou, no nosso caso, por uma continuada e desastrada governação. Todos reconhecem que temos abundantes recursos, hoje fala-se até de petróleo.

Estou a tentar criar uma alternativa, uma cunha entre o PAIGC e o PRS, que me conduza à Assembleia e imponha aos dois Partidos maioritários a necessidade de negociarem a futura Governação. Peço aos guineenses um mandato para fazer a diferença, para tomar conta das «nossas coisas». É preciso ordem. É preciso organização. É preciso devolver a confiança interna e externa ao Estado. É preciso fazer um inventário daquilo que temos e com o que podemos contar.

Perder a confiança de alguém é fácil. Difícil é recuperá-la. Essa é, por isso, uma tarefa hercúlea no nosso país, ao ponto a que chegaram as coisas. Mas não é impossível, trabalhando com responsabilidade e rigor, na máxima transparência. É preciso fazer desta oportunidade eleitoral uma vitória da capacidade, da competência, da consistência. É necessária uma ruptura radical, que nem o PAIGC nem o PRS, devido ao seu historial, estão em condições de oferecer.

Bem sei como os guineenses são agarrados a rotinas, a contemporizações. Votar no PAIGC é um hábito arreigado, gerando atitude semelhante no PRS, criando uma viciosa bi-polaridade que favorece clivagens, desentendimentos, desencontros com o desenvolvimento e com o futuro que todas e todos almejamos para a Guiné-Bissau. Não me conformo. Como voltar a dar carta branca a este Estado de coisas? Ao estado a que isto chegou! Revolta-me as entranhas.

Nesta altura do campeonato, julgo que sou quem encarna essa esperança. Por isso apelei ontem a todos quanto se sentem patriotas e envolvidos com um futuro para Guiné-Bissau, independentemente dos Partidos, para uma confluência na candidatura do meu Partido, mesmo reconhecendo que este não se preparou para este cenário, nem sequer estaria apto a governar sozinho. Esta é uma oportunidade de ouro para mudar o rumo da nossa terra, uma viragem de 180º, de todos e para todos.

Convoco os partidários do PAIGC, convoco os partidários do PRS, para rejeitarem um voto baseado na rotina. Os hábitos podem degenerar em vícios. Peço-vos, como pioneira e admiradora do nosso grande líder Amílcar Cabral, que ponderem bem a responsabilidade da decisão que têm de tomar. Não se trata, de forma alguma, de desmerecer pessoas bem intencionadas, quadros eficazes, o contributo histórico dos respetivos partidos. Não! Contamos com todos, nos seus lugares.

Um bom exemplo disso é a candidatura de JOMAV para Presidente da República. Não creio que seja a melhor opção. José Mário Vaz foi um bom Presidente da Câmara de Bissau. Fez muitas coisas boas. Foi o melhor Presidente da Câmara de Bissau que já tivemos. Mas deixou muitas outras coisas ainda por fazer. É lá que poderia ser útil a todos. Todos os quadros válidos, de ambos os Partidos, terão lugar na consolidação de um projeto nacional, juntando boas vontades, em vez de mútuas desconfianças.

Permitam-nos continuar a sonhar! Acredito que a Guiné-Bissau pode ter um futuro bonito, com um mínimo de bom senso e governança. Vamos recomeçar com base numa nova legitimidade. Peço essa oportunidade. Estou bem qualificada, não devo favores, nem interna nem externamente. Comigo a Guiné-Bissau saberá construir uma nova imagem, de alto contraste com aquela que se vive. A dignidade conquista-se. Desafio a todos a darmos as mãos pa lantanda nô terra!

Vamos exigir respeito pelo nosso país, pelo nosso povo, pela nossa independência, pela nossa soberania, pelas nossas Forças Armadas. Como candidata de boa-fé ao cargo de Primeira-Ministra, defendo a integridade do cargo, independentemente de quem venha a ganhar as eleições legislativas. Por isso condeno as recentes afirmações de Pedro Passos Coelho, o Primeiro-Ministro de Portugal, quando pretende passar atestados de menoridade ao meu País.

Como ex-Ministra da Justiça, estive envolvida no combate ao narco-tráfico. Estou portanto especialmente qualificada para recusar a designação de narco-estado, pois a Guiné-Bissau não tem produção nem consumo de drogas. Caso venha a ser Primeira-Ministra, não tolerarei tentativas de ingerência na nossa política interna. Sou bem conhecida pela minha independência. E estou confiante de que saberemos mostrar que conseguimos resolver os nossos próprios problemas.

1 comentário:

  1. É mesmo necessário ser radical, apresentar projectos radicais, no sentido evolutivo, numa altura em que tudo está-se a preparar para retomar o percurso habitual. Os vícios dos principais partidos estão-se a repetir. Grupos de pessoas, numa corrida louca, estão a ocupar os seus lugares de costume, para continuar a papar. Os tais partidos que recruta os seus militantes através de licitações vão continuar sempre na frente. Os partidos que não o possam fazer vão ficar sempre pequenos. É preciso acabar com este "Estado de coisas" - Um pacto de boa governação, antes das eleições, é a solução..

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